sábado, 3 de outubro de 2009

Desalento


Passei o dia pedindo a noite que se apresasse
A alvorada fagueira tentava sorrir-me venturosa,
Passei a tarde inteira rogando ao sol que se escondesse
Mas persistia em comover-me com seu brilho esplendorosa
Sem conseguir ao menos enternecer-me.

O entardecer ameaça a graça do dia abatido
Diz que vai partir tristonho e sonso,
Que sentirei remorso ao lembrar-lhe o encanto
Pesar em vê-lo partindo.

Então lembrei ao dia ás vezes em que me arrebatou os sonhos
Recordei momentos de angústia e sofrimento.
De desesperança morreram os devaneios
De desalento findaram,
Por desespero revogaram,
Nos logros do tormento.

Então por fim decidiu ceder á utopia
Com todo o seu cáustico vibrante,
Fitando-me com sua graça infante
Precavendo-me dos perigos da fantasia.


Partiu...


Caprichosa queria verter minha alma á lua
Derramar meu pranto de enternecimento,
Nas trevas nocturnas repetir que sou tua,
Do chão ingrato ao terno firmamento.


Ébria de tua imagem recheada de teus carinhos
Afago teus negros cabelos desprendidos,
Chego a escutar delicados passarinhos
Ao longe se aproximando aos alaridos.


As inevitáveis badaladas se aproximam
Sinto seus lábios febris beijando-me o rosto...
Murmurando-me adeus em versos soltos...


Há! dizer adeus aos carinhos teus!
Aos momentos tão pulcros e formosos!
A luz que amarela o leito vem desgraçada
E o dia desperta-me com seus olhos penosos.